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Significado de Salmos 19:1-6
Os céus proclamam, escreve Davi. É só olharmos para cima! Esta passagem está cheia de verbos indicando revelação - anunciar, proferir, revelar. Os céus se comunicam conosco. Ouça e veja além. Ouça e veja a partir de sua experiência.
Muito além do espírito de animismo, que atribui causas espirituais a objetos inanimados, Davi nos convida a testemunhar e ouvir o testemunho articulado pelos céus, pois eles nos dizem algo importante de maneiras belas e poderosas. Eles nos falam a respeito Daquele que os projetou. Podemos aprender sobre o Criador através das obras por Ele criadas. Toda a criação fala da glória de Deus! Porém, Davi escolhe a macro-criação, à qual ninguém pode esconder!
O tema da narração é de suma importância aqui. Davi não está focado nos céus em si. Apesar de todo o seu poder, eles são apenas parte da criação. Na narrativa, a criação aponta para a existência de um Criador. Os céus proclamam a glória de Deus. Esta uma frase clara e incisiva, Davi estabelece imediatamente duas coisas:
A declaração de Davi sobre a glória inigualável de Deus anuncia a declaração espantosa do profeta Jeremias diante do Senhor: "Ninguém é semelhante a ti, Senhor" (Jeremias 10:6).
A Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento ou LXX, a primeira tradução amplamente aceita das escrituras hebraicas para o grego (escrita para um mundo judeu cada vez mais helenizado), traduz a palavra "doxa" como glória. Ao mesmo tempo em que pretende capturar as idéias hebraicas de abundância, honra, esplendor e afins, ela também direciona o leitor para o conceito de "essência observada". A glória de Deus, neste insight adicional, reflete a grandeza do Senhor porque é uma revelação observável de Sua própria natureza.
O apóstolo Paulo, altamente educado nas escolas farisáicas, sem dúvida estava familiarizado com os escritos hebraicos e gregos da Bíblia. Em 1 Coríntios 15, Paulo estabelece um "mapa da glória" a ser considerado pelos crentes. Tudo possui sua própria "essência" ou natureza, sua própria glória particular ("doxa"). A glória de uma entidade não é como a de outra; cada uma é única. Por exemplo, cada estrela no céu noturno tem uma glória particular em si mesma. Os que desejavam seguir a Jesus Cristo devem — por meio da fé — refletir a glória de Deus, permanecendo Nele e dando frutos (João 15:8).
A estrutura poético da língua hebraica antiga não é encontrada na rima ou métrica, como frequentemente é o caso da poesia portuguesa. Alguns dos dispositivos poéticos usados nas Escrituras Hebraicas, como os Salmos, utilizam estratégias como: a) paralelismo de pensamento e imagem; b) personificação; e c) repetição. O objetivo era o de que os ouvintes hebreus fossem atraídos à experiência poética através de idéias claras e bem concatenadas, buscando levá-los a conclusões inspiradoras.
A segunda frase do Salmo 19:1 usa o artifício da personificação: E o firmamento anuncia as obras das Suas mãos. Aqui, as estrelas e os outros corpos celestes “falam”. Eles declaram. Eles anunciam as obras das Suas mãos. O tempo verbal do temor “declaram” indica uma repetição contínua e constante. O firmamento, ou a extensão dos "céus", declara continuamente a glória de Deus, anunciando Seu gênio criador, entre outras características. De fato, as características de Deus podem ser observadas por qualquer pessoa disposta a enxergá-las (Romanos 1:20).
Na primeira frase do Salmo 19, Davi chama nossa atenção para a preeminência e glória de Deus como a origem da criação. A segunda linha poética no versículo 1 fornece uma imagem paralela que essencialmente repete a atividade de "pregação" dos céus, porém a expande a toda a extensão, largura, profundidade e altura da criação: o firmamento. A cláusula conjuntiva “e” conecta a contínua pregação celestial ao testemunho incessante das obra visíveis criadas por Deus. O firmamento anuncia as obras das Suas mãos. Davi aponta seus ouvintes à glória da criação que pertence somente ao único Deus verdadeiro, de cujas mãos vem tudo o que foi criado.
Para compreendermos a enormidade da obra criadora de Deus, é preciso estarmos dispostos a ver e reconhecer o que ocorre nos céus visíveis em toda a sua enorme extensão. A criação dá plena voz ao primado e ao poder de Deus, sem os limites empobrecedores da fala ou do intelecto humanos. Os versículos 2 e 3 apresentam um par de termos delicadamente equilibrados que servem para enfatizar a singularidade da glória e do poder de Deus revelados por meio de Sua criação:
Como um fluxo de fala tão explosivamente abundante ocorre sem palavras, desprovido de qualquer vocabulário? Mais uma vez, o versículo 2b nos diz que o “conhecimento” - especificamente o conhecimento sobre as obras de Deus - é revelado majestosamente de um a outro pôr do sol. No entanto, no versículo 3b, esta abundante revelação do conhecimento é caracterizada por não ter voz.
As construções poéticas de Davi levam seus leitores a perceber que as revelações de Deus na criação são profundamente experienciais e tão fluidas quanto as relações entre indivíduos cognoscentes. Não há necessidade de palavras, vocabulários ou léxicos aprovados de termos aceitáveis para se acessar esse diálogo divino com o Criador. Outra coisa é necessária: presença e percepção. Para compreender a enormidade da obra criadora de Deus, a obra das Suas mãos, é preciso estarmos disposto a ver e reconhecer o que acontece nos céus de forma visível, em toda a sua enorme extensão.
A última parte desta primeira seção é a parte inicial do versículo 4, que diz: Por toda a terra estende-se a sua linha, e as suas palavras vão até os confins do mundo. A “linha” (hebraico "qav") da qual se fala aqui traz à mente uma linha de medição. Conforme o pedido de Deus a Jó em relação à extensão do cosmos por Ele criado:
"Quem definiu suas medidas? Se é que o sabes. Ou quem estendeu a linha ("qav") nele?" (Jó 38:5).
A idéia parece ser a de que a extensão dos céus que mostra a obra criativa de Deus estabelece um padrão de realidade. Assim como uma fita de medição exibe um padrão de medida, o universo criado mostra um padrão da realidade, neste caso a realidade da glória de Deus como seu Criador.
Não há lugar na terra no qual esta linha ou medida seja invisível - as palavras do firmamento são "ouvidas" até os confins do mundo.
O apóstolo Paulo cita o Salmo 19:4 e m sua resposta à pergunta sobre a existência de algum ser humano que possa jamais ter ouvido as "boas novas" do Evangelho. Paulo pergunta:
"Mas digo: porventura não ouviram?" (Romanos 10:18).
Ele mesmo responde no mesmo versículo: "Sim, na verdade". E, então, cita Salmos 19:4a:
"Por toda a terra saiu o som deles, e as suas palavras, até os confins do mundo.”
Neste caso, Paulo usa a palavra grega traduzida como "palavras" para o termo hebraico traduzido como “anunciar”, indicando que as palavras dos céus transmitem conteúdo e informam a qualquer espectador sobre a glória criadora de Deus. Paulo substitui o termo "voz" por "linha", talvez resumindo os versículos que anteriores.
Podemos achar surpreendente a afirmação de Paulo, uma vez que ela vem imediatamente após sua afirmação da beleza da pregação do Evangelho pelos seres humanos:
"Como, pois, invocarão aquele em quem não têm crido? E como crerão naquele de quem não têm ouvido falar? E como ouvirão sem pregador? E como pregarão, se não forem enviados? Assim, como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas'" (Romanos 10:14-15).
Paulo parecer estar dizendo que, embora Deus deseje que os humanos preguem as boas novas, ou seja, Sua palavra, e isso seja algo maravilhoso, não é necessário que os humanos as "ouçam", porque Deus inseriu as boas novas em Sua criação e ela é facilmente observável a qualquer pessoa disposta a reconhecê-la (Romanos 1:19-20).
A seção seguinte louva a Deus pela palavra revelada na Bíblia. Seja a palavra falada, a palavra escrita ou a realidade observável do gênio criativo de Deus na natureza, todas essas formas apontam para as boas novas do caráter de Deus e o cuidado Dele em relação a toda a Sua criação. Isso aponta para um tema crítico das Escrituras: a glória de Deus está constantemente em exibição ao nosso redor. Quanto mais a ciência progride, mais se torna inconcebível que a vida tenha começado sem um Criador - OS CÉUS PROCLAMAM. Agarrar-nos a uma tese materialista tornou-se cada vez mais insustentável. É por isso que o Salmo 14:1 nos diz: "O tolo diz em seu coração: 'Não há Deus'".
O movimento final dentro desta primeira seção do Salmo 19 é um jogo de palavras relacionado ao céu diurno. Os versos 4b-6 retratam uma visão arrebatadora do dossel do firmamento de um a outro pôr do sol. Davi observa a rota rotineira das estrelas, planetas, lua e sol nos céus. A jornada dos corpos celestes visíveis à noite é seguida pelo que se vê ao longo do dia.
No céu diurno, Deus colocou o sol, o mais visível e poderoso de todos os corpos celestes observados, cuja luz e calor não podem ser negados. A sua saída é desde a extremidade do céu, e o seu circuito até os confins dele. Davi dá ao sol um delicioso caráter poético como um noivo que se levanta para fazer sua grande aparição com grande alegria.
A aparição diária do sol não é um evento caracterizado pela timidez. Ele aparece com a confiança de um homem forte dominando uma corrida. A luz e o calor irradiados no curso diário do sol passam por um circuito, uma jornada. A presença do sol é evidente para todos, assim como a glória e o poder de Deus em toda a criação.
Davi dá a entender que há uma ordem para o que é visível nos céus a cada dia e cada noite e isso não pode ser descartado como uma mera circunstância: este é um projeto bem concebido e confiável. O espetáculo rítmico e ativo dos céus a cada dia e a cada noite está disponível para quem quiser ver, para quem quiser experimentar, em toda a terra. Sem voz, este aspecto da criação é, no entanto, claramente discernível e visível, mesmo nas partes mais remotas do mundo.
Encontramos aqui uma profecia relacionada ao que Jesus, ecoando os profetas Jeremias e Ezequiel, perguntaria séculos depois: "Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis?" (Marcos 8:18). O apóstolo Paulo confirma as revelações ativas de Deus através das maravilhas da ordem criada (Romanos 1:20; 10:18). O caráter de Deus revelado na criação é tão claramente demonstrado que apenas uma recusa deliberada nos levaria a não enxergá-lo.
Os que não o enxergam, portanto, são “indesculpáveis". Isso nos lembra do clássico autor inglês Jonathan Swift (1667-1754) e de sua observação: "Não há ninguém tão cego quanto aqueles que não querem ver".