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Significado de Mateus 18:8-9

Jesus repete uma das metáforas do Sermão da Montanha advertindo Seus discípulos de que é melhor perder uma parte do corpo agora e entrar em Seu Reino do que manter todo o corpo agora e perder a entrada em Seu Reino.

Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este ensino são encontrados em Mateus 5:29-30 e Marcos 9:43.

Quando Jesus segurou a criança em Seus braços e ensinou aos discípulos sobre a grandeza dentro de Seu Reino, Ele reiterou duas metáforas gráficas que havia apresentado durante o Sermão da Montanha (Mateus 5:29-30).

O primeiro pensamento foi: Se tua mão ou seu pé te faz tropeçar, corta-o e jogue-o fora; é melhor entrar na vida aleijado ou coxo, do que ter duas mãos ou dois pés e ser lançado no fogo eterno.

O segundo pensamento é semelhante: Se teu olho te faz tropeçar, arranca-o e jogue-o fora. É melhor entrar na vida com um olho, do que ter dois olhos e ser lançado no inferno ardente.

Ambas as expressões eram metáforas gráficas. São ilustrações figuradas sobre mutilar o corpo, não literais. Em nenhum lugar das Escrituras Jesus ou a Bíblia ensinam que a mutilação física do corpo é um requisito para entrar no Reino. O apóstolo Paulo diz que isso não tem valor (Gálatas 5:6; Colossenses 2:23). Jesus está usando a comparação hiperbólica para chamar nossa atenção. É melhor perder uma parte do corpo do que perder todo o corpo. Ao usar essa ilustração, Jesus exorta a Seus seguidores a deixar de lado qualquer coisa que possa levá-los a produzir uma ofensa ou pedra de tropeço a Seus filhos.

A razão que Jesus apresenta para essas ações drásticas de perder uma mão ou olho é que é melhor perder essas partes do corpo do que todo o corpo ir para o inferno ardente. Aqui a palavra inferno é uma tradução de "Geena". A palavra grega Geenna é "Gehenna", uma transliteração da palavra hebraica "Hinnome". "Geena" era o Vale de Hinom, na fronteira com Jerusalém. Era o lixão/aterro/esgoto da cidade, onde havia uma queima constante de carcaças e um forte odor de morte e degradação. A razão pela qual os escritores de Mateus (e os outros Evangelhos) provavelmente terem transliterado o hebraico "Hinnome" no lugar de "Geena", em vez de simplesmente traduzi-lo, foi porque aquele era um termo culturalmente familiar com um significado vívido.

Como ponto de referência, a palavra "inferno" na maioria das traduções modernas é uma tradução de "Geena", em todas as ocorrências, exceto uma, quando o inferno é a tradução de "tartaroo", um dos compartimentos do Hades. O lugar mais parecido com o que geralmente chamamos de "inferno" era o Hades. O Hades tinha dois compartimentos: um lugar de tormento para os ímpios e um lugar de descanso para os justos (Lucas 16:19-30). No entanto, o Hades será lançado no lago de fogo (Apocalipse 20:14). Assim, o destino final aos que rejeitam o dom gratuito da graça de Deus será habitar para sempre no lago de fogo. O Geena é uma imagem de qualquer aspecto das consequências adversas do pecado. Já que Jesus estava falando a Seus discípulos, suas palavras se aplicavam à sua experiência de vida, em vez de seu destino eterno.

Esta explicação "É melhor que" é repetida após cada alerta. Para entendermos melhor o que Jesus quer dizer, precisamos olhar para cada elemento da metáfora. Há três partes neste padrão. São eles: uma condição, um comando e uma comparação.

As condições são: Se teu olho te faz tropeçar; se tua mão ou pé te faz tropeçar. Isso se aplica aos que são propensos a tropeçar e pecar, ou seja, todo nós. Todos somos tentados a pecar, mas as tentações reais que enfrentamos podem variar. Alguns de nós somos tentados pela luxúria, o que vemos (o olho). Outros são tentados pela ganância ou ambição de poder (a mão). Outros são tentados por outros pecados. A questão é que todos somos tentados a tropeçar e pecar. O pecado nos impede de entrar no Reino de Jesus e obter Seus benefícios. Portanto, as palavras de Jesus tiveram muito significado para Seus discípulos caso quisessem entrar no Reino e obter suas bênçãos.

Os comandos são: Corte-o e lance-o fora; e Arranque-o e lance-o fora. Uma vez que todos somos propensos a tropeçar em diferentes pecados, Jesus nos diz que devemos nos livrar - cortar, arrancar - das partes do nosso corpo que nos fazem tropeçar. Ele diz isso figurativamente, como é demonstrado a seguir.

As comparações são entre duas perdas: perder parte do corpo agora, mas entrar no Reino versus manter a vida mundana agora, mas perder o Reino. Jesus expressa essa comparação de duas maneiras: É melhor entrar na vida aleijado ou coxo, do que ter duas mãos ou dois pés e ser lançado no fogo eterno; é melhor entrar na vida com um olho, do que ter dois olhos e ser lançado no inferno.

Ninguém, naturalmente, deseja perder qualquer parte de seu corpo. Jesus entende isso. E, assim, Ele faz uma comparação, dizendo que é melhor tomar essas medidas drásticas de perder uma mão, um pé ou um olho do que mantê-los e perder o Reino. Algo será perdido, e será um preço alto. Precisamos decidir o que será. Jesus pergunta o que preferimos perder: um pouco ou tudo? Só um tolo escolheria perder tudo.

A metáfora das partes do corpo apresentada por Jesus provavelmente se refere a vários aspectos de nossas vidas que podem nos fazer tropeçar e pecar. Pode ser uma posse, ou uma ação. Talvez um relacionamento, ou uma ocupação. Acabar com qualquer uma dessas coisas significa perder uma parte de nossas vidas. É doloroso. Mas se não nos livrarmos dos aspectos de nossas vidas que nos façam tropeçar, acabaremos perdendo tudo o que valorizamos.

O contraste de lugar e tempo é vital para aplicar o mandamento de Jesus: é melhor perder uma das partes do corpo (aqui e agora) do que mais tarde, no futuro, ter todo o corpo lançado no Geena, ou fogo eterno. Há um intervalo de tempo entre o pecado e sua consequência.

Tiago usa a metáfora da gravidez para ilustrar a progressão do pecado:

"Mas cada um é tentado quando é levado e seduzido por sua própria luxúria. Então, quando a luxúria concebeu, ela dá à luz o pecado; e quando o pecado é realizado, ele produz a morte." (Tiago 1:14-15)

Há uma lacuna entre o pecado ser concebido e a consequência da morte. Jesus está dizendo que é melhor podar partes de nossas vidas agora que são contrárias ao Reino do que desfrutar desses prazeres ou confortos agora e acabar no Geena, uma imagem da morte.

Como vimos na última seção, entrar no Reino de Deus não tem a ver com o pertencimento à família de Deus. Este é uma dádiva da graça e é recebido através da fé. Em vez disso, refere-se a receber as recompensas ou benefícios da graça concedida. Entrar no Reino de Jesus tem a ver com a entrada dos israelitas na Terra Prometida: exige fé para possuir o que havia sido concedido por Deus (Gênesis 15:7).

Essa entrada no Reino pode se aplicar às recompensas pela fidelidade nesta vida ou na próxima. Em cada caso, aplica-se a um discípulo de Cristo e às recompensas por suas escolhas. Normalmente, há um atraso entre a abnegação e seus benefícios. O princípio da semeadura e colheita aplica-se tanto ao bom quanto ao mau comportamento. Há um atraso entre o plantio e a colheita. Podem haver dias ou anos entre a semeadura da negação de um desejo carnal e a colheita de um benefício tangível.

O princípio da semeadura e colheita também se aplica às recompensas que recebemos por ações feitas durante nossas vidas. Toda a nossa vida antes do retorno de Cristo é um tempo de semeadura. O momento do juízo irá determinar quais benefícios eternos os discípulos colherão. Essas recompensas provavelmnete serão desfrutadas durante o reinado de mil anos de Jesus nesta terra, bem como no novo céu e na nova terra (Apocalipse 3:21). É melhor passar pela vida abrindo mão de desejos e tentações do que ser chorar amargamente quando todo o corpo for lançado no Geena.

O que Jesus quer dizer com Suas referências ao fogo eterno e/ou Geena, traduzidas por inferno?

São expressões diferentes para o mesmo pensamento. O fogo eterno é uma descrição de um lugar. E o lugar era o Geena. Em Marcos, Jesus descreveu o Geena a Seus discípulos como um lugar onde "o seu verme não morre, e o fogo não se apaga" (Marcos 9:44; 9:46; 9:48).

O Geena era o que hoje é chamado de Vale de Hinom ("Geena", em grego), fora dos muros de Jerusalém. O Vale de Hinom (Ge  = vale e henna = Hinom) fica ao sul da muralha da cidade de Jerusalém. Funcionava como o depósito de lixo da cidade antiga. O Geena e sua descrição como o lugar de fogo eterno contrasta com a vida dentro da cidade. Jesus se refere a estar neste monte de lixo fumegante como um contraste com estar em Seu Reino. O Rei e Seus fiéis seguidores estarão dentro das muralhas da cidade, residindo no palácio. Eles estarão desfrutando da segurança e generosidade da vida do Reino. Eles não estarão fora dos muros da cidade vivendo no depósito de lixo.

O depósito de lixo e esgoto do Vale de Hinom, Geena, era um lugar de lixo e decadência. Carcaças mortas e em decomposição, lixo e esterco estavam constantemente queimando. Esta é uma imagem para as consequências do pecado nesta vida. E pode ser uma imagem da queima de obras de "madeira, feno e palha" que não sobrevivem ao fogo refinador do julgamento de Deus (1 Coríntios 3:11-15). Não seria consistente com o contexto do que havia ensinado no Monte que Jesus estivesse dizendo a Seus discípulos que eles "passariam a eternidade no lago de fogo" se pecassem. Se fosse esse o caso, Jesus não precisaria morrer na cruz (Colossenses 2:14). Caberia a cada discípulo conquistar sua entrada ao céu evitando o pecado.

Quando Jesus diz que é melhor arrancar o olho ou cortar a mão, Ele está se referindo a melhores escolhas. Qualquer escolha tem consequências. Deixar de lado a luxúria e a tentação significa perder um prazer temporal. Mas é melhor perder esse prazer fugaz do que sofrer as consequências adversas do pecado. Evitar as coisas que nos fazem tropeçar nos liberta para desfrutar dos benefícios da vida no Reino. Pode parecer bom amaldiçoar alguém, vingar-se. Mas isso provavelmente resultarrá em uma disputa contínua, com danos substanciais. Perdoar produz resultados muito melhores, ou seja, uma vida de relacionamentos curados. No entanto, perdoar ou confessar um pecado, às vezes, vai assemelhar-se com cortar uma mão ou um pé, ou arrancar um olho.

A mensagem dessas metáforas é semelhante ao famoso desafio de Jesus de negar a nós mesmos por Sua causa e tomar a nossa cruz todos os dias (Mateus 16:24; Lucas 9:23-26). Se cedermos ao pecado e não nos livrarmos da luxúria e de suas consequências, se não negarmos a nós mesmos e tomarmos nossa cruz, então estaremos salvando nossas vida para os prazeres deste mundo, o que significa que a perderemos (no "Geena" deste mundo). Em contraste, se perdermos nossa vida por causa Dele, a encontraremos (em Seu Reino). A mensagem das metáforas de Jesus aqui e o mandamento de Jesus de tomarmos a nossa cruz são um tema consistente em toda a Escritura.

O tema principal é este: Não ceda à tentação de desfrutar do pecado terreno agora, porque isso lhe custará caro no Reino de Deus mais tarde. Negar-se a si mesmo é melhor. Se cedermos ao pecado, nos arrependeremos quando nos encontrarmos no Geena. Se formos fiéis em seguir a Cristo e resistir ao pecado, receberemos entrada na "cidade", que é o Seu Reino, e desfrutaremos de Suas bênçãos. A experiência no Geena pode aplicar-se a esta vida, ou seja, as consequências adversas do pecado, que sempre nos leva à morte. Mas, também, pode se aplicar à próxima vida, quando perderemos as recompensas diante do Tribunal de Cristo.

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