Significado de Mateus 18:1-5

Os relatos paralelos quanto a este evento são encontrados em Marcos 9:33-37 e Lucas 9:46-48.

O capítulo 18 de Mateus é o quarto dos cinco registros das palavras de Jesus, chamados de "discursos". Às vezes é chamado de “O Discurso sobre a Igreja" (Mateus 18). Os três primeiros discursos de Mateus foram "O Sermão da Montanha" (Mateus 5:3 - 7:27), "O Discurso Missionário" (Mateus 10:5 - 10:42) e "O Discurso Parabólico" (Mateus 13:1-35). O discurso final em Mateus será "O Discurso das Oliveiras" (Mateus 24-25).

Logo após a conversa de Jesus com Pedro de que os filhos do rei não são obrigados a pagar o imposto do templo, os discípulos restantes entram na casa (Mateus 17:25-27). Lucas nos diz que eles estavam discutindo sobre "qual entre eles seria o maior" no Reino dos Céus (Lucas 9:46).

Eles parecem pausar sua discussão ao entrarem na casa. Seja pela incapacidade dos discípulos de esconder suas ambições, ou da onisciência divina de Jesus, Ele sabia o que eles estavam pensando em Seu coração (Lucas 9:47). Ele perguntou-lhes: "O que vocês estavam discutindo no caminho?". Os discípulos, porém, se mantiveram em silêncio, porque estavam envergonhados com a discussão que haviam acabado de ter (Marcos 9:33-34). O relato desses detalhes do Evangelho de Marcos e Lucas indica que Jesus pode ter desejado provocar alguma reação nos discípulos.

A grandeza no Reino parecia ser um tópico comum entre os discípulos. Esta não foi a única vez que os discípulos discutiram sobre este tópico (Mateus 18:1-5;  Marcos 9:33-37; Lucas 9:46-48). A certa altura, Tiago e João reacendem esse debate quando solicitam que sua mãe peça a Jesus que seus filhos sejam exaltados no Reino (Mateus 20:20-28;  Marcos 10:35-45). Os discípulos discutiram sobre qual deles era o maior depois da Ceia do Senhor (Lucas 22:24). Em todos esses casos, Jesus nunca descarta a pergunta dos discípulos ou os repreende por pensarem dessa maneira. Em todos os três casos, Ele valida suas ambições de grandeza, dizendo-lhes como ser grande.  Jesus não tenta conter sua ambição, mas redefine sua perspectiva sobre o que constitui a verdadeira grandeza.

A ambição e o impulso do homem para a grandeza são coisas inatas. Foram colocadas em nós por Deus quando Ele nos fez à Sua própria imagem. De fato, Seu mandato divino exige que o homem tenha "domínio" sobre a terra e gerência sobre toda a Sua criação (Gênesis 1:28). Todo mundo quer que sua vida importe, o que é uma forma de desejar grandeza. Essa ambição pela grandeza é o desejo justo de nos tornar o que Deus nos criou para ser.

Porém, a Queda (Gênesis 3) perverteu esse desejo justo. Ela distorceu a ambição do homem e o afastou para longe da intenção original de Deus, Agora, ser grande significa ter o maior número possível de pessoas “nos” servindo e "aos nossos desejos". A idéia de grandeza do mundo é frequentemente aplicada àqueles que exibem a maior capacidade de explorar os outros e dobrá-los à sua vontade. Muitos homens chamados de " grandes" pelos historiadores eram grandes assassinos e opressores. As imagens mundanas de grandeza mantidas pelos discípulos eram provavelmente reis e sacerdotes que exigiam honra, glória e, muitas vezes, tributo de seu povo.

Jesus não queria que Seus discípulos falhassem ou fossem medíocres. Ele queria que Seus discípulos fossem grandes, mas que fossem grandes em Seu Reino, não no reino do mundo. Os discípulos estavam fazendo a pergunta certa. Sua ambição de grandeza era saudável, mas seu objetivo estava errado. Sua imagem secultar de como ser o maior era exatamente o oposto de como Deus a definia. Jesus aproveitou essas oportunidades para realinhar a imagem e o paradigma de grandeza de Seus discípulos à verdade.

Marcos registra que Jesus mostrou a Seus discípulos o princípio da grandeza.

"Sentado, chamou os doze e disse-lhes: 'Se alguém quiser ser o primeiro, será o último de todos e servo de todos.'" (Marcos 9:35)

Grandeza não era tomar a posição de autoridade sobre outras pessoas, como o mundo e os discípulos imaginavam. A verdadeira grandeza era encontrada em servir. Era fazer o trabalho para elevar os outros, ajudando-os a serem bem-sucedidos. Era fazer o "melhor" para desempenhar "o meu papel" para ajudar "a equipe" a ter sucesso. Isso requer viver uma vida de fé, crendo na promessa de Deus de que obteremos grandes benefícios, não de recompensas terrenas. Muitas vezes, tal serviço nos trará grande tristeza.

Depois que Jesus apresentou esta mudança de paradigma, Ele chamou uma criança e continuou a explicar. Marcos acrescenta um detalhe: “Jesus tomou o menino em seus braços" (Marcos 9:36) enquanto ensinava essas coisas.

Jesus falou a partir de Sua autoridade divina: Verdadeiramente eu vos digo. Com isso, Ele explicou: A menos que vocês se convertam e se tornem como crianças, vocês não entrarão no Reino dos Céus.

A palavra grega traduzida como Convertam é "strepho" (G4762). Ela significa "voltar atrás" ou "virar". Mateus usa essa palavra para transmitir a advertência de Jesus a Seus discípulos de que eles estavam no caminho errado em relação a se tornarem os maiores. A menos que voltassem seus pensamentos sobre o que era grandeza, eles não entrariam no Reino. Jesus queria que eles mudassem sua perspectiva sobre a grandeza.  Ele queria que eles deixassem de lado a definição mundana (dominar) e a substituíssem por uma definição justa (servir).

Jesus lhes disse que, para serem grandes, eles deveria se tornar como crianças. As crianças não tiinham posição reconhecida na sociedade. Suas demandas ou necessidades não tinham autoridade alguma. Além disso, se um adulto pedia a uma criança para fazer alguma coisa, elas eram obrigadas a obedecer. As crianças acreditavam no que lhes era dito; elas eram propensas a ter fé. Os discípulos deveriam entrar no Reino dos Céus adotando a posição humilde  de uma criança, uma posição de obediência e confiança no Pai Celestial.

Jesus era Deus, mas escolheu viver uma vida de completa obediência a Seu Pai (João 5:19). Como resultado de Sua completa obediência, Jesus recebeu o nome que está acima de todo nome (Filipenses 2:8-9). Jesus nos mostrou o caminho para a verdadeira grandeza.

Jesus disse ainda a discípulos: Quem se humilhar como esta criança será o maior no Reino dos Céus. Em outras palavras, quem não força suas próprias reivindicações sobre os outros e quem serve aos outros em obediência ao Pai, é capaz de entrar no Reino. Essa imagem de grandeza é o que Jesus estava ensinando a Seus discípulos o tempo todo. Eles deveriam aprender a servir primeiro. E somente aprendendo a servir humildemente aos outros, confiando que os caminhos de Deus são para o nosso melhor, eles seriam capazes de reinar com Ele em Seu Reino como servos-reis (Mateus 5:3; 5:40-42). Jesus disse aos discípulos que eles deveriam ser humildes como aquela criança, dando a eles uma imagem tangível para entenderem.

É importante notar aqui que os discípulos já criam em Jesus e, portanto, como Abraão, já poderiam ser declarados justos aos olhos de Deus (Gênesis 15:6). Entrar no Reino, portanto, tem a ver com as recompensas por um serviço fiel. É semelhante à nação de Israel. Eles foram escolhidos como o povo de Deus por causa de Seu amor por eles (Deuteronômio 7:6-7). Mas Israel não recebeu permissão para entrar na terra e possuir sua herança, até que se dispuseram a andar pela fé.

De maneira semelhante, Jesus aqui está dizendo aos discípulos que eles não possuirão (entrarão) no grande benefício do Reino, a menos que exerçam a fé de uma criança. As crianças acreditam em tudo o que lhes é dito. Jesus instrui a Seus seguidores a acreditar que tudo o que Ele nos diz é verdade.

Jesus continuou a ensinar-lhes que Quem quer que receba uma dessas crianças em Meu nome, Me recebe. Marcos acrescenta que Jesus ampliou Sua declaração: "E todo aquele que Me recebe, não Me recebe, mas Aquele que Me enviou" (Marcos 9:37).

Esta passagem em Lucas traz o mesmo ponto:

"Quem recebe esta criança em Meu nome Me recebe, e quem Me recebe Aquele que Me enviou; porque aquele que é o menor entre todos vós, este é o que é grande." (Lucas 9:38)

Jesus reiterou esse princípio de grandeza muitas vezes. Em cada caso, Ele deixou claro que o verdadeiro caminho para a grandeza é servir aos outros em amor.

A expressão "Receber uma criança" provavelmente queria dizer servir e beneficiar aos que não podiam retribuir o favor. As crianças estavam entre as menos qualificadas. Elas não tinham como pagar alguém pelo serviço prestado a elas. Elas não podiam recompensar a ninguém. Somente o Pai Celestial, que havia enviado a Jesus, seria capaz de retribuir e dar a recompensa pelo serviço prestado àquelas crianças. A recompensa de Deus pelo serviço às crianças era permitir que as pessoas entrassem e fossem grandes em Seu Reino.

Jesus estava essencialmente dizendo a Seus discípulos que, ao receberem e servirem às crianças, eles estavam realmente recebendo e servindo a Deus (Mateus 18:10;  Mateus 25:40). Em vez de servirem àqueles que "podem fazer algo por nós", Jesus deixa claro que a verdadeira grandeza é servir àqueles que não podem nos retribuir o favor.